18/09/2013

Como uma mãe que defende os seus filhos

Durante missa em Santa Marta, papa Francisco propõe uma reflexão sobre a Igreja.

Jesus ressuscita filho da viúva de Naim: "capacidade de estar próxima de nossos sofrimentos e fazê-los seus".

Como uma mãe que nos ama, nos defende, nos dá a força para ir em frente na luta contra o mal. Eis a imagem da Igreja caracterizada pelo papa Francisco nessa terça-feira (17), durante a missa celebrada de em Santa Marta.

Comentando o trecho do evangelho de Lucas que narra a ressurreição do filho da viúva de Naim (7, 11-17), o pontífice descreveu Jesus que, ao ver a mulher diante do cadáver do seu único filho morto, "sentiu grande compaixão”. E definiu o sentimento de Cristo como "a capacidade de sofrer conosco, de estar próximo dos nossos sofrimentos e fazê-los seus". Ele sabia bem "o que significava ser mulher viúva naquele tempo”, quando as mães que ficavam sozinhas a criar os filhos dependiam da ajuda e da caridade de outros. Por isso, os preceitos de então insistem muito sobre isto: "Ajudar os órfãos e as viúvas, porque naquele tempo eram os mais sozinhos, os mais abandonados".

No pensamento do bispo de Roma, depois as outras figuras de viúvas das quais se fala na Bíblia. Em relação a elas, o Senhor mostra uma particular “atenção, um amor especial”, a ponto que elas acabam por constituir  “um ícone da Igreja, porque – explicou – também a Igreja é num certo sentido viúva: o seu esposo foi embora e ela caminha na história esperando encontrá-lo, encontrar-se com ele. Então ela será a esposa definitiva”. Mas, lembrou, "a Igreja está sozinha", e o Senhor não é visível para ela: portanto, "tem uma certa dimensão de viuvez".

A primeira consequência dessa viuvez é que a Igreja se torna “corajosa”, à semelhança de uma mãe “que defende os filhos”, precisamente como a viúva  do Evangelho “que foi ter com o juiz corrupto para defender os filhos e no final venceu”. Porque, frisou o Papa, “a nossa mãe Igreja tem aquela coragem de uma mulher que sabe que os filhos são seus e deve defendê-los e levá-los ao encontro com o seu esposo”.

Da coragem deriva depois um segundo elemento, a força, como testemunham outras viúvas descritas nas Escrituras: entre elas Noemi, bisavó de David, “que não tinha medo de ficar sozinha”, ou a viúva macabeia com sete filhos, “os quais para não renegar a Deus, para não renegar a lei de Deus foram martirizados pelo tirano”. Dessa mulher, um pormenor surpreendeu o papa Francisco: o fato que a Bíblia ressalte “que falava em dialeto, na primeira língua”, precisamente como faz “a nossa Igreja mãe”, que nos fala “naquela língua da verdadeira ortodoxia que todos nós compreendemos, aquela língua do catecismo, aquela língua forte, que nos torna fortes e nos dá também a força para ir em frente na luta contra o mal”.

Resumindo as próprias reflexões, o pontífice reafirmou portanto "a dimensão de viuvez da Igreja, que caminha na história esperando encontrar o seu esposo”. De resto, frisou, “a nossa mãe Igreja é assim: é uma Igreja que quando é fiel sabe chorar, chora pelos seus filhos e reza”. Aliás, “quando a Igreja não chora, algo não está bem”;  a Igreja funciona quando “vai em frente e faz crescer os seus filhos, lhes dá fortaleza, os acompanha até à última despedida, para os deixar nas mãos do seu esposo, que no final também ela encontrará”.

E, dado que o papa vê a “nossa mãe Igreja nesta viúva que chora”, é preciso perguntar-nos o que diz o Senhor a esta mãe para a confortar. A resposta está nas próprias palavras de Jesus referidas por Lucas: “Não chores!”. Palavras que parecem dizer: não chores porque “eu estou contigo, acompanho-te, espero-te lá, nas núpcias, as últimas núpcias, as do cordeiro”; não chores, “este teu filho que estava morto agora vive”. E a este último, terceira figura presente no cenário evangélico, o Senhor dirige-se ordenando-lhe: “Jovem, eu te digo: levanta-te!”. Para o pontífice são as mesmas palavras que o Senhor dirige aos homens no sacramento da reconciliação, “quando morremos para o pecado  pedindo-lhe o perdão”.

A narração de Lucas conclui-se com a descrição do jovem morto que se levanta, se senta e começa a falar, e de Jesus que o restitui à sua mãe. Precisamente como faz conosco – observou o papa - “quando nos perdoa, nos volta a dar a vida”, porque “a nossa reconciliação não acaba no diálogo”, com o sacerdote que nos dá o perdão, mas completa-se “quando ele nos restitui à nossa mãe”. Com efeito, concluiu, “não há caminho de vida, não há perdão, não há reconciliação fora da mãe Igreja”, e por isso é sempre necessário “pedir ao Senhor a graça de ser confiantes nesta mãe que nos defende, nos ensina, nos faz crescer”.
L'Osservatore Romano, 18-09-2013.

Nenhum comentário :

Postar um comentário