Cidade do Vaticano. O papa Francisco defendeu uma profunda reforma na Igreja Católica no primeiro documento escrito unicamente pelo pontífice, a Exortação Apostólica "Evangelii Gaudium" (A Alegria do Evangelho), publicado ontem. No entanto, o pontífice afirmou que "não deve se esperar que a Igreja mude sua postura" sobre a questão do aborto.
O papa quer uma instituição que dê prioridade aos pobres e denuncie que os excluídos continuam esperando por dias melhores FOTO: REUTERS
Para o papa, o tema do aborto não está sujeito a "supostas reformas ou modernizações" e opinou que "não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana". Sobre as mudanças na Igreja, Francisco afirmou estar "aberto às sugestões".
No documento de 84 páginas, o religioso chamou o capitalismo desenfreado de uma "nova tirania" e pediu aos líderes mundiais que combatam a pobreza e o crescimento desigual. No primeiro grande trabalho de sua autoria desde que foi eleito papa, Francisco foi além de criticar o sistema econômico mundial, ao atacar a "idolatria ao dinheiro" e implorar aos políticos que garantam a todos os cidadãos "trabalho, atendimento de saúde e educação dignos".
Ele também pediu às pessoas ricas que compartilhem sua riqueza. "Do mesmo modo como o mandamento ´Não matarás´ estabelece um claro limite para salvaguardar o valor da vida humana, hoje nós também temos de dizer ´Não deves´ para uma economia de exclusão e desigualdade. Tal tipo de economia mata", escreveu Francisco no documento divulgado ontem.
O papa disse que a renovação da Igreja não poderá ser adiada e que o Vaticano também precisa ouvir o chamado da conversão pastoral.
"Eu prefiro uma Igreja que esteja machucada, ferida e suja porque tem saído às ruas do que uma Igreja doente por estar confinada e se agarrar à própria segurança", escreveu.
Em julho, Francisco encerrou uma encíclica iniciada pelo papa Bento XVI, mas deixou claro que era de modo geral o trabalho de seu antecessor, que renunciou em fevereiro. A exortação é apresentada como uma pregação simples e caloroso de Francisco e enfatiza a missão central da Igreja de pregar "a beleza do amor salvador de Deus manifestada em Jesus Cristo".
Nele, Francisco reitera afirmações anteriores de que a Igreja não pode ordenar mulheres ou aceitar o aborto. O sacerdócio exclusivo para os homens, disse ele, "não é uma questão aberta à discussão", mas as mulheres têm de ter mais influência na liderança da Igreja.
Fim da desigualdade
Como uma meditação sobre como revitalizar uma Igreja Católica que vem sofrendo com os avanços da secularização nos países ocidentais, a exortação de Francisco ecoa o zelo missionário ouvido frequentemente dos evangélicos, que ganharam fiéis entre os católicos desencantados na América Latina, região natal do pontífice.
Diário do Nordeste
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