Cidade do Vaticano - Após muito ser ignorado nos semáforos da Avenida 9 de Julho, em São Paulo, o malabarista Rogério Piva, de 26 anos, foi o centro das atenções na quarta-feira da semana passada (8), no Vaticano. Com uma camisa com a bandeira do Brasil estampada nas costas, o artista circense se apresentou para o papa Francisco em plena Praça São Pedro e conseguiu fazer o pontífice sorrir.
"Em alguns momentos, eu olhava para o papa e sentia uma satisfação muito grande. Ele sorria e tentava observar tudo ao mesmo tempo, virando a cabeça de um lado para o outro, captando cada movimento e sentindo a energia compartilhada", disse o malabarista.
"O que mais me marcou foi o sorriso de Francisco. Eu o senti como uma criança encantada e deslumbrada com a magia, mas uma criança que te transmite paz e tranquilidade". Piva se apresentou para o papa junto com artistas da Itália, Ucrânia, Rússia e Mongólia. Todos compõem o elenco do 30° Golden Circus Festival, que acontece anualmente em Roma. O festival é organizado desde 1984 pela italiana Liana Orfei.
O único brasileiro da turma, porém, contou que o número apresentado a Francisco não foi planejado com antecedência. "Só fiquei sabendo como seria a exibição momentos antes. Ficou apenas combinando que cada um faria um pedaço pequeno da sua apresentação ao papa", disse Piva, que recebeu o prêmio de artista mais aplaudido do 30° Golden Circus Festival na Itália.
"Já me apresentei para muitas personalidades em todos os países pelos quais passei. Mas considero todo público importante e merecedor do mesmo respeito. Se uma pessoa reservou seu tempo para assistir a uma apresentação minha, merece todo o meu respeito e consideração", disse o artista.
Malabarista há 11 anos, sendo oito como profissional, Piva já foi flanelinha, carregador e ajudante comercial até decidir largar emprego e estudos para seguir carreia artística. Viajou de norte a sul do Brasil com grandes e pequenos circos, como Circo Di Napoli, Circo Vostok, Circo Estoril e Circo Spacial. Dormiu embaixo de palcos, em meio à lona e animais, e tomou banho de caneca. Em agosto de 2011, mudou-se para o Chile em busca de melhores condições de trabalho e, sobretudo, de reconhecimento profissional.
"Com quase nada de dinheiro, sem saber para onde ir, como me comunicar, com quem falar ou onde ficar, parti para o Chile com minhas malas de malabares, minha roupa com a estampa do Brasil e a confiança na minha arte". E foi em Santiago que Piva conheceu o Golden Circus do Chile e iniciou, de fato, sua carreira no exterior.
"O circo no Brasil enfrenta o descaso e a escassez de público. A falta de consideração dos governos municipais para acolher os circos e as altas taxas que se pagam geram um ciclo de decadência", criticou o malabarista.
"As pessoas não vão ao circo. Em contrapartida, os bares ficam lotados e é triste saber que, em muitos circos, o ingresso é mais barato que uma cerveja ou um maço de cigarros". "Já faz dois anos que estou atuando fora do Brasil. Passei por 11 países e cada um deles me recebeu com uma euforia muito forte. Senti coisas tão boas que nunca senti no meu país. Senti respeito, carinho, acolhimento", confessou o artista.
Entre janeiro e fevereiro, Piva ficará no Brasil para rever a família. Mas já tem projetos para este ano: ir para Burkina Faso, na África, atuar em um projeto é do Centro de Assistência e Formação Integral (CAFI) para resgatar meninos de rua, garibous e outras crianças em situação de risco.
SIR/ANSA
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