19/02/2014

ONU E A SANTA SÉ

Alguns dias atrás um Relatório do Comitê da ONU sobre Direitos da Criança pediu que a Santa Sé afastasse de seus cargos todos aqueles que abusaram sexualmente de crianças e os denuncie à Justiça. O Comité pediu a Santa Sé para “afastar de imediato de suas funções todos os autores conhecidos e suspeitos de abusos sexuais de crianças, assim como denunciá-los às autoridades competentes para que os investiguem e sejam processados”. O porta-voz do Vaticano, o Padre Jesuíta Frederico Lombardi, rebateu o conteúdo do relatório afirmando que “a Igreja Católica já afronta os casos de pedofilia com transparência e explicará, nas próximas semanas, o funcionamento de uma comissão criada para preveni-los, depois de perguntado sobre o relatório do Comitê da ONU”. A Santa Sé reagiu denunciando o que considera distorções no documento do Comitê.
No dia 16 de janeiro deste ano representantes da Santa Sé compareceram perante o referido Comitê da ONU para esclarecer a posição da Santa Sé perante os abusos sexuais de crianças por religiosos. Mostraram que no início do pontificado do Papa Bento XVl a Santa Sé estabeleceu uma série de estritas normas para lutar contra o problema de abusos sexuais por religiosos, assim como com a política de tolerância zero. Os dois últimos Papas e os organismos competentes do Vaticano trabalharam e trabalham arduamente para “o estabelecimento de normas e diretrizes rigorosas e eficazes para curar, resistir e prevenir os graves fenômenos de abuso sexual contra menores de idade”. Porém, há uma nítida impressão que o Comitê não levou adequadamente em consideração essas medidas. Há pessoas que acreditam que o Relatório foi escrito inclusive antes da reunião do Comitê com a Delegação da Santa Sé que deu detalhadamente respostas precisas sobre vários pontos e que não foram relatadas no Relatório do Comitê.
O que o Comitê da ONU me parece não entende ainda é que não é a Santa Sé que é responsável pelos religiosos que abusaram sexualmente das crianças, mas os bispos diocesanos e superiores maiores das Congregações religiosas. A Santa Sé lamenta ver em alguns pontos do Relatório uma tentativa de interferir nos ensinamentos da Igreja Católica sobre a dignidade da pessoa humana e na prática de liberdade religiosa, criticando a atitude da Igreja em relação à homossexualidade, o planejamento familiar e o aborto. Pe. Lombardi afirmou ainda que o Comitê “parece ter ido além de sua competência e interferiu nas posições morais e doutrinais da Igreja Católica”.
Segundo o Arcebispo Silvano Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé ante as Nações Unidas em Genebra, “o documento do Comitê não foi atualizado, ele não tem uma perspectiva correta”. Os grandes avanços na Igreja Católica concernentes aos abusos sexuais de menores por membros do clero não foram levados adequadamente em consideração pelos membros do Comitê segundo o prelado. Hoje a orientação da Santa Sé aos bispos e superiores religiosos é tolerância zero nesta área. O Papa Francisco já deu importantes passos neste tema, como a criação de uma comissão para tratar deste assunto que respalda e promove o trabalho da Igreja em todo mundo para garantir os direitos e bem-estar das crianças.

Por Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1

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