Talvez seja graças a ele que, em Dubai, não existem impostos e há mais de 40 shoppings.
Dubai já começou a construir o seu bairro da moda, indústria que gera bilhões de dólares anualmente.
Por Luiz Sérgio Toledo*
Enquanto o resto da região se afunda em guerras, protestos, violência e primaveras árabes, Dubai cresce. Seus edifícios cada vez mais altos e a opulência de todas as obras alimentam o imaginário de todos os países da região que não apenas querem vir a Dubai para aproveitar e ser parte do fenômeno que aqui acontece todos os dias. Todos os países vizinhos "querem ser Dubai", ou "como Dubai", mas nem todos, na verdade pouquíssimos, têm a coragem necessária para as mudanças radicais necessárias.
Esta semana foi o Dia de São Valentim, no Hemisfério Norte reverenciado como um santo casamenteiro, como o nosso Santo Antônio no Brasil, e por isso Valentine’s day é o dia dos namorados. Conta a lenda que São Valentim, de Roma, foi preso porque realizou casamentos de soldados (que eram proibidos de casar). Foi preso e, durante a prisão, realizou um milagre, curando a filha do carcereiro. Antes de ser executado ele escreveu uma carta que terminou assinando “Your Valentine”. A igreja anglicana, então, elegeu o 14 de fevereiro como o seu dia e ele vem ajudando o comércio e o amor desde então.
No Brasil, o dia de Santo Antônio é 13 de junho e o dia dos namorados cai na véspera, no dia 12, dia de Santo Onofre, santo que, além de possuir a glória de ter dado nome a um dos maiores atores de Hollywood, Humphrey Bogart, talvez seja o único santo que mudou de sexo. No rito ortodoxo, Onofre teria sido uma virtuosa rapariga que, para preservar a sua virgindade de um feroz perseguidor, rezou para que Deus a transformasse num homem, o que lhe foi concedido. Depois, foi viver como eremita no deserto do Egito, vivendo pelado e tendo apenas a sua longa barba a lhe cobrir as partes
Jejum de dia, comilança de noite
Os árabes seguem o calendário gregoriano principalmente por causa dos negócios, mas, na verdade, seu calendário é o lunar Islâmico ou muçulmano, que também tem 12 meses e 354 ou 355 dias. Só que ele começa no ano em que o profeta Maomé fez sua peregrinação a Meca e Medina, conhecida como Hajri, para nós no ano 652 DC. Então, para os muçulmanos estamos agora no ano 1435 DH, depois do Hajri.
É claro que isso causa uma certa confusão na hora de marcar compromissos. Os feriados são determinados às vezes no dia anterior, porque os clérigos estavam esperando um sinal lunar. Se você tem um dia cheio de compromissos, às vezes fica difícil desmarcar tudo em cima da hora. O mesmo ocorre com o Ramadan, o mês sagrado do jejum durante o dia e comilança à noite, que cada ano começa 15 dias mais cedo. Quando cheguei a Dubai, o Ramadan era em novembro. Este ano vai começar em 27 de junho. Ou 28. Ou 29. Estamos aguardando.
Mas voltando ao Valentine, assim como no Natal, as vitrines ficam vermelhas, as decorações evocando o espírito do amor, corações, cupidos, etc. A vizinha Arábia Saudita, que no Natal passado tinha proscrito a cor vermelha de todas as vitrines, agora proibiu rosas vermelhas e quem quisesse dar de presente rosas dessa cor ou caixas de chocolate em forma de coração, tinha que se dirigir ao fundo da loja, onde os comerciantes escondiam as mercadorias proibidas. As floriculturas esconderam tudo que era vermelho e enfeitaram as vitrines apenas com rosas brancas ou gerânios azuis, para fugir à sanha da polícia religiosa, a temível Muttawa.
O vermelho proibido
Essa polícia, conhecida como a Comissão para a Promoção da Virtude e Combate ao Vício começou a dar batidas nas lojas uma semana antes do dia 14, à caça de qualquer presente da cor vermelha ou em forma de coração, símbolo da “celebração dos infiéis”. No “mercado negro” saudita as rosas foram vendidas a seis dólares cada.
É fácil perceber que, num país onde as mulheres têm que cobrir o corpo com uma abaya preta quando saem à rua e não podem dirigir, elas sonham com a liberdade relativa de Dubai. Aqui Valentine´s foi celebrado abertamente e o Natal teve decorações comparáveis com às de Nova York.
Dubai já é a capital da moda do Oriente Médio, responsável por mais da metade do gasto no mercado da região. A indústria fashion que gera bilhões de dólares anualmente, prepara-se agora para colocar um pé na porta dos gigantes do mercado global, Estados Unidos Europa e Japão. Para isso já começaram a construção de um projeto gigantesco chamado Dubai Design District, ou D3, dedicado à indústria da moda.
Ele terá estúdios de design, hotéis boutique, apartamentos sofisticados e obviamente um shopping center dedicado ao tema. A primeira fase do projeto, uma construção de um milhão e setecentos mil metros quadrados, ao custo de cerca de 1 bilhão de dólares deverá ficar pronta em 2015 e eles esperam atrair a Dubai os melhores estilistas da região.
25 quilômetros de lojas
Há cerca de 200 nacionalidades em Dubai e elas perfazem 90% da população. Um terço dos 7,6 bilhões de dólares gastos em moda no Oriente Médio no ano passado foi gasto em Dubai. Não se engane com as capas pretas e os lenços que cobrem os cabelos da mulheres locais; na verdade, elas não são nada conservadoras quando estão na frente de outras mulheres e retiram as abayas. Usam roupas coloridas e dos melhores estilistas internacionais. Mas o D3 vai tentar criar uma identidade local para a moda, em vez de ficarem apenas copiando e promovendo as grifes internacionais.
O Dubai Mall, o shopping que tem mais de 25 quilômetros de lojas, sendo o maior da região, recebeu mais de 75 milhões de visitantes no ano passado, a metade deles turistas. Para acompanhar o crescimento, o shopping está em fase de expansão, cerca de mais de 300 mil m2 de lojas. Para não ficar atrás, o Emirates Mall, o segundo maior, também resolveu ampliar, investindo mais de um bilhão de dólares nos próximos 5 anos em novas lojas e restaurantes.
Em Dubai, não há impostos e há mais de 40 shoppings. Paraíso para comerciantes e compradores.
*Luiz Sérgio Toledo é cirurgião plástico e vive em Dubai há oito anos.
Dom Total
Nenhum comentário :
Postar um comentário