Quando parece que a vida se fecha ou se extingue, Deus permanece.
Por José Antonio Pagola*
Ocupados apenas em conseguir de imediato um maior bem-estar e atraídos por pequenas aspirações e esperanças, corremos o risco de empobrecer o horizonte da nossa existência perdendo a aspiração da eternidade. É um progresso? É um erro?
Há dois aspetos que não é difícil comprovar neste novo milênio em que vivemos há alguns anos. Por um lado, está crescendo na sociedade humana a expectativa e o desejo de um mundo melhor. Não nos contentamos com qualquer coisa: necessitamos progredir para um mundo mais digno, mais humano e feliz.
Por outro lado, está crescendo o desencanto, o ceticismo e a incerteza ante o futuro. Há tanto sofrimento absurdo na vida das pessoas e dos povos, tantos conflitos envenenados, tais abusos contra o Planeta, que não é fácil manter a fé no ser humano.
No entanto, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia está conseguindo resolver muitos males e sofrimentos. No futuro se conseguirá, sem dúvida, êxitos ainda mais espetaculares. Ainda não somos capazes de intuir a capacidade que se encerra no ser humano para desenvolver um bem-estar físico, psíquico e social.
Mas não seria honesto esquecer que este desenvolvimento prodigioso nos vai “salvando” só de alguns males e de forma limitada. Agora precisamente que desfrutamos cada vez mais do progresso humano, começamos a perceber melhor que o ser humano não pode dar-se a si mesmo tudo o que deseja e procura.
Quem nos salvará do envelhecimento, da morte inevitável ou do poder estranho do mal? Não há de nos surpreender que muitos comecem a sentir a necessidade de algo que não é técnica, nem ciência, nem doutrina ideológica. O ser humano resiste a viver encerrado para sempre nesta condição caduca e mortal.
No entanto, não poucos cristãos vivem hoje olhando exclusivamente para a terra. Ao que parece, não nos atrevemos a levantar o olhar mais além do imediato de cada dia. Nesta festa cristã da Ascensão do Senhor quero recordar umas palavras daquele grande cientista e místico que foi Theilhard de Chardin: “Cristãos, a apenas vinte séculos da Ascensão, que haveis feito da esperança cristã?”.
No meio de interrogações e incertezas, os seguidores de Jesus seguem caminhando pela vida, trabalhados por uma confiança e uma convicção. Quando parece que a vida se fecha ou se extingue, Deus permanece. O mistério último da realidade é um mistério de Bondade e de Amor. Deus é uma Porta aberta à vida que ninguém pode fechar.
*José Antonio Pagola é teólogo. O texto é baseado no Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 28, 16-20 que corresponde ao Domingo da Ascensão, Ciclo A do Ano Litúrgico.
Dom Total
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