Um confronto com um grupo não identificado fez mal à saúde de uma tribo indígena do Acre. Sete de seus integrantes contraíram gripe, doença contra a qual não têm defesas naturais, e tiveram de ficar numa espécie de quarentena por seis dias, sob forte tratamento, para evitar a disseminação de uma epidemia.
Os índios da tribo isolada faziam caça e coleta no mato até encontrarem indígenas da Aldeia Simpatia, que têm contato com uma base avançada da Fundação Nacional do Índio (Funai). Os membros da aldeia ligaram para o órgão e informaram sobre a movimentação do grupo desconhecido.
Uma equipe da fundação, que já tentava monitorar a tribo isolada, chegou à Aldeia Simpatia no dia 13 de junho. Houve, ali, três encontros entre eles, todos no fim de junho, e que duraram poucas horas. Na última vez, os pesquisadores da Funai constataram que os índios daquela tribo estavam gripados.
RESISTÊNCIA A VACINAS
Os índios isolados receberam os primeiros medicamentos no dia 4 deste mês. Dois dias depois, os doentes, que estavam na mata, foram levados para uma base da Funai. Durante o tratamento, que durou quase uma semana, os índios resistiram a tomar vacinas, mas foram convencidos pelos intérpretes e aceitarem medicação oral.
O grupo foi monitorado durante toda sua estada, até o tratamento ser cumprido. Não houve casos mais graves nem evolução da gripe para pneumonia. Os índios foram liberados para voltar às suas malocas apenas quando não havia mais riscos de epidemia.
- Conversamos com o grupo indígena por meio de intérpretes, e eles relataram que sofreram atos de violência praticados por não índios nas cabeceiras do Rio Envira, no Peru - conta Carlos Travassos, coordenador geral de Índios Isolados e Recém-Contatados da Funai. - Por se tratar de uma região de fronteira, estamos tomando medidas para investigar os fatos relatados e implementar um plano de ação com o governo peruano.
O plano de contingência realizado com os Ashaninkas só é aplicado quando uma tribo isolada pede socorro ou se for identificado algum fator que a colocaria em perigo. Na sexta-feira passada, a Funai e o Ministério da Saúde discutiram novas operações que poderiam ser adotadas na área.
- Foi uma situação preocupante, porque, como os índios têm pouquíssima imunidade (ao influenza), o quadro poderia ter evoluído para uma pneumonia, colocando-os em risco de morte - explicou Douglas Rodrigues, médico da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que participou da operação no Acre. - Além disso, temíamos que as sete pessoas do grupo de contato pudessem contagiar os demais integrantes de seu povo ao voltar para a aldeia.
NOVO CONTATO MÊS QUE VEM
Equipes da Funai e do ministério pretendem vacinar o maior número possível de pessoas da tribo isolada. Apesar da resistência inicial, Rodrigues acredita que a iniciativa pode dar certo "chegando a tempo e montando uma estrutura". Já o ministro da Saúde, Arthur Chioro, prometeu aumentar a equipe médica para a população indígena. Para o plano dar certo, falta combinar com a isolada tribo acriana, que foi vítima do ataque, mas também sabe resistir a visitas indesejadas.
Fonte: www.oglobo.com
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