13/12/2014

A consciência da Boa Nova


No batismo, recebemos a luz para que déssemos testemunho do Cristo.


O que temos feito desta luz?




Só no 4º Domingo, o evangelho vai nos falar de Maria, remetendo-nos ao primeiro dia de sua espera, com o “relato” da Anunciação. Podemos pensar, no entanto, em tudo o que ela viveu durante a sua gravidez, em particular, nas últimas semanas. Por atenção ao que se passou com ela, esperando o Messias prometido? Toda cheia de alegria? Certamente. Mas também com uma ponta de inquietação, suplantada pela fé.

A liturgia nos faz cantar o Magnificat entre as duas primeiras leituras. Devemos compreender que a humanidade está em estado de gravidez, em gestação, até a última vinda do Cristo. É, sem dúvida, a gestação do Homem completo, terminal, mas gestação também de nós mesmos, que seguimos realizando o término da nossa criação. Portanto, não nos deixemos apanhar, nem nos afligir, pelo espetáculo do que se passa no mundo, mas creiamos firmemente que o que está por vir é o melhor: o melhor absoluto, insuperável. O texto de Isaías é particularmente eloquente: fala em termos nupciais e em fecundidade.


Em certo sentido, o Advento é, no fundo, o tempo para tomarmos consciência da Boa Nova. Muita gente tem dificuldade em levar a sério esta Boa Nova e em atribuir-lhe a importância decisiva que ela conserva, exatamente porque é boa, de uma bondade insuperável. De fato, temos diante dos olhos e bloqueando a nossa vista o espetáculo de todas as más notícias que a imprensa nos traz todos os dias. Não esqueçamos que foi passando pelo Calvário que o Cristo chegou ao novo nascimento, ao Homem Novo.


João sempre aí


Quando perguntado sobre quem era ele, João não declinou uma identidade, definiu-se como uma voz. Esta voz que grita no deserto ressoa desde sempre. Voz humanamente anônima, porque não é voz de homem, mesmo se passando pelos homens, é verdade, mas é a voz de Deus. O Verbo já está aí, mas ainda velado, não ainda em plenitude. Oculto por esta plenitude à qual pertence, mas que o ultrapassa, é que João desaparece, faz-se desaparecer.


Por que insistir tanto? Porque, de certo modo, estamos sempre aí. Vimos, com certeza depois de João e depois também de Jesus, em quem recebemos um batismo não mais de água, mas de espírito (versículo 33, fora da leitura). Mas a vinda do Cristo, no que se refere à sua plena realização, está ainda no futuro. Ainda há “judeu e pagão, homem e mulher, escravos e homens livres”; ainda não somos “todos Um no Cristo Jesus” (Gálatas 3,28). Isto já está realizado por direito, por assim dizer, em possibilidade.


E a Páscoa do Cristo foi que o pôs no mundo. Mas temos de realizá-lo historicamente. As nossas divisões estão longe de serem superadas e o deserto do amor é sempre o lugar onde temos de fazer ressoar a voz divina. Os homens de poder “enviados de Jerusalém” estão hoje menos agressivos do que nos tempos de João Batista; eles deixam que os atuais “profetas” falem, enquanto se entregam ao culto de seu próprio prestígio.


Todos profetas


Voltemos às linhas precedentes: temos, hoje ainda, muitos “profetas” feitos prisioneiros e levados à morte, assim como João Batista. Pensemos, entre tantos outros (no Iraque, na Nigéria, em El Salvador, aqui entre nós…) nos monges de Tibirine.


O deserto de Deus, o deserto do Amor permanece assassino. O deserto está cheio de ídolos e os ídolos, falsas imagens de Deus, são assassinos. O batismo vem desqualificar, vem ultrapassar o ídolo: uma vez morto e assassinado, vem assumir esta morte e inaugurar uma nova vida, outra vida. Ser mergulhado na água significa voltar ao abismo primordial, de Gênesis 1,2, onde já encontramos a água e o sopro, o Espírito.


Mas o batizado não fica dentro da água; sai dela para uma vida além da morte, figurada pela imersão. O rito não basta, é preciso também a palavra proclamada no deserto: este deserto, às vezes, tão vazio de ouvintes. Mas quem fala hoje? Quem são os profetas? Obviamente, temos os padres, os bispos, o papa…


Estes profetas de tempo integral não nos devem fazer esquecer que, sendo cristãos, somos um povo de profetas. E que todos nós temos de “estar sempre prontos a dar a razão da nossa esperança a todo aquele que no-la pede, mas com mansidão e respeito” (1 Pedro 3,14). “Esperança”, diz o texto. O que em Cristo nos é dado ainda não está aí, ao menos em sua realização última. A nossa maneira de possuí-lo é esperar, com confiança.


Croire

*Marcel Domergue é sacerdote jesuíta. O texto é baseado nas leituras do 3º Domingo do Advento (14 de dezembro de 2014). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.

 



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