09/12/2014

Franciso e Bento concordam sobre divorciados

Em entrevistas distintas, pontífice atual e papa emérito demostram que têm o mesmo ponto de vista sobre a questão.



Por Gian Guido Vecchi

A entrevista de Francisco aos argentinos do jornal La Nación: os divorciados não estão excomungados, abramos as portas. E Ratzinger fala ao jornal Frankfurter Allgemeine: eles devem poder ser padrinhos de batismo. Sem querer, eles escolhem o mesmo exemplo: o dos divorciados em segunda união que agora não podem sequer ser padrinhos de batismo.


Bento XVI – em uma conversa com Jörg Bremer do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung – o fez também para esclarecer que se trata de “um absurdo total” querer contrapô-lo ao sucessor, com o qual tem “ótimos contatos”, como se quisesse “pôr-se de enviesado”: justamente ele, que, depois da renúncia ao pontificado, queria ser chamado apenas de “Padre Bento”, mas, explica, estava “fraco e cansado” demais para se impor.


E Francisco – em uma entrevista a Elisabetta Piqué do argentino La Nación –, para explicar que os divorciados em segunda união “não estão excomungados” e é preciso “abrir um pouco mais as portas”.


Bento, na conversa, na realidade, se limita a lembrar que eles “não devem ser excluídos da vida da Igreja” e diz que devem poder ser padrinhos ou madrinhas de batismo.


Na sua “opera omnia”, foi recentemente republicado um artigo seu de 1972 sobre a indissolubilidade do matrimônio, mas com algumas correções em relação às posições mais “abertas” da época. Ratzinger responde assim àqueles que queriam contrapô-lo a Francisco, explicando que essa revisão estava pronta meses antes do Sínodo e não tem “nada de novo” em relação ao que ele já disse como cardeal e pontífice. E distancia-se das polêmicas dos nostálgicos: “Aos fiéis, está perfeitamente claro quem é o verdadeiro papa”.


Francisco, por sua vez, se mostra sereno: “Deus é bom comigo, me dá uma boa dose de inconsciência. Vou fazendo o que eu tenho que fazer”. Diante das mudanças, “as resistências agora se evidenciam, mas para mim é um bom sinal que sejam ventiladas, que não as digam às escondidas”, considera. “É sadio ventilar as coisas, é muito sadio. Considero as resistências como pontos de vista diferentes, não como coisa suja. Eu não estou preocupado.”


No centro da família, a preocupação com “os jovens que não se casam”. Depois, ele fala sobre as questões mais controversas, começando pelos divorciados em segunda união: “O que fazemos com eles, que porta pode ser aberta para eles?”.


Há “uma inquietação pastoral” e, portanto, “não é uma solução se vão lhes dar a comunhão. Só isso não é a solução: a solução é a integração”. Eis o ponto: eles “não estão excomungados. Mas não podem ser padrinhos de batismo, não pode ler na missa, não pode dar a comunhão, não podem ensinar catequese, não podem como que sete coisas, tenho a lista aí. Pare! Se eu conto isso pareceriam excomungados de fato! Então, abrir as portas um pouco mais…”.


Certamente, o testemunho de quem diz ao afilhado “veja, eu me equivoquei, mas quero seguir a Deus” vale mais do que outros considerados regulares: “Se vem um desses charlatães políticos que temos, corruptos, para ser padrinho e está bem casado pela Igreja, você o aceita?”.


Sobre a comunhão, Francisco fala das “hipóteses” de Kasper: “Alguns teólogos se assustaram: nunca a comunhão [eucarística]. Sim à espiritual. Mas diga-me: não é preciso estar na graça de Deus para receber a comunhão espiritual?”.


Quanto aos gays, “ninguém falou de matrimônio homossexual no Sínodo. O que nós falamos, sim, foi sobre uma família que tem um filho ou uma filha homossexual, como o educa, como se leva isso, como se ajuda essa família a levar adiante essa situação um pouco inédita. Ou seja, no Sínodo, se falou da família e das pessoas homossexuais em relação com as suas famílias, porque é uma realidade que encontramos todo o tempo nos confessionários”.


Francisco vai completar 78 anos em alguns dias: “Tenho os meus achaques, e nesta idade se sentem os achaques. Mas estou nas mãos de Deus, até agora consigo levar um ritmo de trabalho mais ou menos bom”.



Corriere della Sera, 08-12-2014.

*A tradução é de Moisés Sbardelotto.


http://goo.gl/rxFaCV

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