08/01/2015

Bárbaro, cruel, covarde

 domtotal.com


Ataque reforça o sentimento anti-islâmico e anti-imigrantes na União Europeia.






‘Eu sou Charlie’, diz o protesto à luz de velas inscrito na avenida Champs Elysees, em Paris. <i>Foto (Reprodução)</i>




Ambulância retira o corpo de uma das vítimas da sede da revista Charlie Hebdo. <i></i>




Marcas da violência: assassinos usaram fuzis no ataque contra o semanário Charlie Hebdo. <i></i>





Por Ricardo Setti


O cruel e covarde ataque de fanáticos assassinos muçulmanos contra o semanário satírico francês Charlie Hebdo, provocando a morte de 12 pessoas, inclusive de quatro cartunistas idolatrados na França, já é considerado o maior atentado contra a imprensa livre desde a II Guerra Mundial na Europa.


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Infelizmente, os criminosos partidários da barbárie e absolutamente incapazes de conviver com qualquer tipo de liberdade de expressão que, em sua visão distorcida, possa ferir dogmas nos quais acreditam — como os autores desse atentado –, só vêm reforçar o crescente sentimento antiislâmico na Europa que, por extensão, se estende e acaba se confundindo com uma forte hostilidade a imigrantes em geral.


É desinformado quem imagina que boa parte dos movimentos desse tipo, como o que vem crescendo na Alemanha, é composto de radicais racistas de direita ou de extrema direita. Não, cada vez mais pessoas de bom nível educacional, que votam em partidos da chamada “direita civilizada” — ou seja, inteiramente conformes aos padrões da democracia –, de centro, de centro-esquerda e mesmo de esquerda estão participando de manifestações contra o que consideram excesso de liberalidade na admissão indiscriminada de estrangeiros em países europeus.


A Alemanha, cujo passado nazista contribui para que os governantes ajam com extrema cautela no trato da questão, vive uma situação cada vez mais complicada: só no ano passado, mais de 200 mil refugiados, sobretudo da guerra civil na Síria, ingressaram em seu território, e a maior parte deles, por força de diferentes leis, acabam fazendo jus a ajudas e subsídios dos cofres públicos.


Em geral muito pouco qualificados profissionalmente, com dificuldades imensas para adaptar-se à cultura ocidental e para aprender o idioma, essas pessoas, majoritariamente muçulmanas, acabam permanecendo indefinidamente no país graças a grupos de pressão vários, inclusive defensores dos direitos humanos, dificultando a adoção de políticas de imigração dos governos destinadas a preencher necessidades específicas da sociedade.


Essa imigração não planejada tem levado a situações inusitadas e complexas — por exemplo, a convivência com os filhos de imigrantes, sobretudo em bairros periféricos, tem levado milhres de jovens alemães a não mais dominarem sua própria língua corretamente. Em escala menor, o mesmo se dá na vizinha Áustria, na França, na Itália e na Espanha — onde a jornalista e escritora Pilar Rahola, conhecida defensora dos direitos humanos e militante de esquerda, chegou a escrever um livro intitulado A República Islâmica da Espanha, em que denuncia a pregação radical de clérigos em mesquitas país afora.


Lamentavelmente, também, a ponte entre a Europa e o Islã que poderia significar o ingresso da Turquia na União Europeia está sendo implodida pelo regime crescentemente radical, autoritário e liberticida do presidente turco Recep Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento, islâmico moderado cada vez menos moderado.


O “choque de civilizações”, tantas vezes anunciado e tantas vezes negado, lamentavelmente está à vista, e suas consequências só podem ser muito, muito ruins.



*Ricardo Setti é jornalista é articulista da Editora Abril, onde este artigo foi publicado originalmente.


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