12/06/2012

Rio+20 - Meio ambiente


Conheça o Butão, país que adotou a Felicidade Nacional Bruta como critério.
Questão foi posta em debate em fórum científico antes da Rio+20.

Tadeu MeniconiDo G1, no Rio de Janeiro
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Existem dois tipos de países no mundo, segundo Ashok Khosla, um dos responsáveis pelo Painel Internacional de Recursos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). De um lado, estão os Estados Unidos e todos os que querem copiá-los. Do outro, está o Butão, um país escondido nas montanhas do Himalaia, entre a Índia e a China, com cerca de 700 mil habitantes.
O especialista indiano, um dos mais respeitados do mundo sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, está no Brasil para o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, que acontece na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) às vésperas da Rio+20.
Crianças butanesas (Foto: Prakash Singh;AFP)Crianças butanesas mostram orgulho com a bandeira do país (Foto: Prakash Singh;AFP)
“O Butão decidiu que fazer dinheiro não é a única coisa na vida”, definiu Khosla. O país tem políticas nacionais para aumentar a felicidade da população e desenvolveu uma forma de medir essa felicidade. O tempo disponível para brincadeiras ou para a meditação – o país tem maioria budista – está entre os fatores levados em consideração.
O resultado é um indicador conhecido como Felicidade Nacional Bruta. O nome é uma comparação com o Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos por um país, conceito que geralmente é usado para avaliar a economia de cada nação.
“O PIB é o indicador mais estúpido. A Felicidade Nacional Bruta é dez vezes mais sensata”, comparou Khosla.
O pesquisador usou o exemplo do Butão para falar sobre a situação dos países em desenvolvimento em geral. “O Brasil e a Índia também podem fazer isso se disserem: ‘nossas vidas não estão à disposição’. Temos uma cultura de séculos – ou milênios, no caso da Índia – e não queremos destruir nossa própria cultura. Basicamente, fomos completamente seduzidos pelo modo de vida americano”, lamentou.
Governo do Butão mede a felicidade dos cidadãos (Foto: Ed Jones/AFP)Governo do Butão mede a felicidade dos cidadãos (Foto: Ed Jones/AFP)
O PIB e o meio ambiente
Uma pesquisa apresentada no Fórum pelo cientista letão Janis Brizga, do projeto Green Liberty, comparou a situação econômica e a ambiental de países do antigo bloco soviético – hoje em desenvolvimento. O resultado mostrou “uma ligação clara entre os gastos domésticos e os impactos ambientais”.
O caso do Leste Europeu é mais um exemplo da relação entre o desenvolvimento econômico e os problemas ambientais. “A Índia já consome 50% mais recursos do que ela produz”, exemplificou Khosla. “Se você gasta mais do que recebe na conta bancária, vai falir rapidinho”.
A China é hoje o país que mais emite CO2, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Na conta por habitante, no entanto, a nação asiática, que tem a maior população do mundo, produz menos gases poluentes que os EUA e a Europa.
“Muitas vezes, se fazem acusações que são injustas contra determinados países”, afirmou Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil.
“São aqueles países que já estão desenvolvidos e têm um padrão de análise, e enxergam os países em desenvolvimento – como nós, a Índia, a China, os países da África – não sendo permitidos a desenvolver certo tipo de atividade”, completou.
Paisagem de Los Angeles; EUA servem de modelo de desenvolvimento econômico (Foto: Gabriel Bouys/AFP)Paisagem de Los Angeles; EUA servem de modelo de desenvolvimento econômico (Foto: Gabriel Bouys/AFP)
Mas Khosla considera esse raciocínio perigoso. “É o que todos estão pensando: ‘se eles [os países desenvolvidos] podem fazer, por que nós não?’”, disse o indiano. “Os Estados Unidos são um exemplo do que não fazer, porque isso é totalmente insustentável”.
“É só depois que você já tem dinheiro que dá mais valor à qualidade de vida do que a um carro novo”, afirmou o pesquisador, comparando a situação econômica dos países à vida pessoal.
“O que nós achamos, no que a economia verde e o desenvolvimento sustentável consistem, é começar a mudar desde o início. Não é preciso passar por todo o processo, dá para queimar etapas usando tecnologia mais limpa, métodos mais limpos, menos recursos e menos poluição”, explicou.
Apesar do alerta que deve ser emitido por um documento elaborado pelos cientistas, Khosla não espera grande evolução ambiental nas negociações da Rio+20. “A questão é que ninguém quer ouvir a mensagem, só vão ouvir depois de algumas catástrofes a mais”, previu. “Eu não acho que vá acontecer dentro dos próximos dez anos”.
Para o indiano, a economia verde só poderá prevalecer se a sociedade se mobilizar o suficiente para pressionar os políticos. “As pessoas da economia ‘marrom’ são muito poderosas. São eles que financiam governos, que conseguem votos, que gerenciam os partidos políticos, então não é fácil ignorá-los”, apontou.

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