Entrevista com o cardeal Angelo Scola: Santo Agostinho
ROMA, segunda-feira, 27 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – O cardeal arcebispo de Milão celebrará a eucaristia na Basílica de São Pedro in Ciel d'Oro, de Pavia, túmulo de Santo Agostinho, no dia 28 de agosto, memória litúrgica do santo.
Agostinho está enterrado em Pavia desde o século VIII: descansa na basílica de São Pedro in Ciel d'Oro, aos pés da arca de mármore erguida no século XIV pelo prior agostiniano Bonifacio Bottigella, que mais tarde se tornou bispo de Lodi. A Arca de Santo Agostinho, assim chamada em honra do santo, traz o ano de 1362 gravado em letras góticas, festejando agora, portanto, os seus 650 anos de construção. Em 28 de agosto, memória litúrgica do santo, diante do seu túmulo, a eucaristia será celebrada às 9 horas pelo bispo de Pavia, dom Giovanni Giudici, às 11 pelo prior geral da Ordem de Santo Agostinho, pe. Robert F. Prevost, e às 18h30 pelo cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão.
ZENIT pediu que o cardeal Scola fizesse uma breve reflexão sobre a figura de Santo Agostinho e agradece a ele pela entrevista concedida.
Eminência, o arcebispo de Milão vai celebrar a eucaristia no túmulo de Santo Agostinho. Renova-se o vínculo singularíssimo na fé cristã entre Ambrósio e Agostinho, que, além de pastores do povo de Deus, são mestres de cultura e de espiritualidade para o Ocidente. Estamos a poucos meses do XVII centenário do Édito de Milão: o que Ambrósio e Agostinho ainda podem dizer a este respeito?
Cardeal Scola: Ambrósio e Agostinho viveram as décadas difíceis da transição entre o velho, representado pelo Império Romano esgotado e em declínio inexorável, e o novo, que se anunciava no horizonte, mas que ainda não revelava com nitidez os seus contornos. Eles estavam imersos numa sociedade em muitos aspectos semelhante à nossa, abalada por mudanças contínuas e radicais, sob a pressão dos povos estrangeiros e da depressão econômica, devida às guerras e às carestias.
Nessas condições, mesmo na profunda diversidade de história e temperamentos, Ambrósio e Agostinho foram indomáveis anunciadores do Cristo para cada homem, na certeza humilde de que a proposta cristã, se aceita livremente, é um recurso valioso para a construção do bem comum.
Eles foram firmes defensores da verdade, apesar do risco e das dificuldades que isso implica, sabendo que a fé não mortifica a razão, mas a completa; e que a moral cristã aperfeiçoa a moral natural, sem contradizê-la, e promove a sua prática. Usando termos do debate contemporâneo, podemos defini-los como dois paladinos da dimensão pública da fé e de um conceito saudável de lacidade.
O Santo Padre, na carta apostólica Porta Fidei, que apresenta o Ano da Fé, cita Santo Agostinho ao dizer que "os crentes se fortalecem crendo". No Ano da Fé, qual pode ser, na sua opinião, a lição da vida humana e espiritual de Santo Agostinho?
Cardeal Scola: Numa das audiências gerais dedicadas a Santo Agostinho, Bento XVI retomou a expressão "velho mundo", e disse: "Se o mundo envelhece, Cristo é eternamente jovem. Daí o convite de Agostinho: Não se recusem a rejuvenescer com Cristo, mesmo no velho mundo. Ele diz: Não tenhas medo; a tua mocidade se renova como a da águia" (cf. Sermão 81,8; Bento XVI, audiência geral de 16 de janeiro de 2008). Agostinho é um poderoso testemunho da contemporaneidade de Cristo para cada homem e da profunda conveniência da fé para a vida.
O que significa a perenidade do pensamento e da história humana de Santo Agostinho?
Cardeal Scola: É o inquietum cor, do qual ele mesmo nos fala no incipit das Confissões. A busca incansável, que fascina os homens de todos os tempos, é especialmente valiosa para nós, que hoje estamos imersos, e muitas vezes perdidos, nas complicações deste início do terceiro milênio. Uma busca que não para na dimensão horizontal, mas que se expande para a dimensão vertical.
O próprio Agostinho descreve isto, quando, numa passagem dos solilóquios, afirma: "Eis que eu orei a Deus. O que, pois, queres saber? Todas essas coisas que pergunteiem oração. Resume-asem poucas palavras. Desejo conhecer a Deus e a alma. E nada mais? Nada mais” (Agostinho, Solilóquios I, 2,7).
Eminência, quem é Santo Agostinho para o senhor?
Cardeal Scola: Um gênio da humanidade e um grande santo, um homem plenamente realizado. Eu fico impressionado, a este respeito, com uma afirmação de Maritain que repito muito aos jovens, muitas vezes tão obcecados com o problema do sucesso e da auto-realização: "Não há personalidade realmente perfeita a não ser nos santos. Mas como? Os santos, acaso, se propunham a desenvolver a própria personalidade? Não. Eles a encontraram sem procurá-la, por procuravam a Deus somente" (J. Maritain).
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