30/12/2012

Venezuela com medo do pós-Chavez


MUNDO
Vice-presidente apontado como sucessor

Texto Leonídio Paulo Ferreira | jornalista do Diário de Notícias | Foto Lusa | 29/12/2012 | 07:45
Quando venceu as eleições em outubro de 2012, conquistando um mandato de seis anos, houve quem previsse que Hugo Chávez ficaria duas décadas no poder. Hoje, discute-se uma possível sucessão
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Uma operação no hospital Cimeq de Havana, o melhor de Cuba, demorou seis horas e registou complicações várias, tendo havido hemorragia. Com estas notícias em meados de dezembro, os venezuelanos assustaram-se. Afinal, até que ponto o seu Presidente, Hugo Chávez, será capaz de recuperar de um cancro na zona pélvica que chegou a ser dado como resolvido? Mais que o destino de um homem, trata-se do futuro de um país latino-americano de 30 milhões de habitantes e dez vezes maior que Portugal, onde vivem centenas de milhares de portugueses.

Para os apoiantes, como Miriam Escobar, que foi a uma igreja de Caracas rezar pelo “comandante”, o receio é que todo um projeto de sociedade mais justa caia por terra. Para os opositores, que nas eleições de outubro garantiram 6,5 milhões de votos a Enrique Capriles, o medo é sobretudo de instabilidade no poder e que as velhas divisões nas fileiras anti-chavistas reapareçam assim que se perceba que o inimigo comum cedeu.

Golpista falhado em 1992, Chávez conseguiu pelo voto o sucesso que lhe fugiu pelas armas. Quando em 1998 ganhou a presidência venezuelana, prometendo a “Revolução Bolivariana”, parecia um fenómeno fugaz. Mas a verdade é que resistiu a um golpe de Estado, acumula vitórias eleitorais (e uma derrota num referendo) e surge como o inspirador de toda uma corrente de líderes latino-americanos, como o equatoriano Rafael Correa, que também defendem um socialismo inspirado no legado mítico de Simão Bolivar, o libertador das Américas.

Graças aos dinheiros do petróleo, produto de que a Venezuela é um grande exportador, Chávez conseguiu reduzir a pobreza no país e conquistar as camadas populares, que sentem que os partidos e políticos tradicionais as desprezam. Mas revelou-se incapaz de desenvolver a economia noutras áreas e libertar-se da dependência do crude. Ao mesmo tempo, a posição relativa da Venezuela na hierarquia de desenvolvimento das nações foi baixando, porque outros países tiveram mais sucesso com fórmulas menos populistas. É o caso do Brasil de Lula da Silva, o antigo metalúrgico que chegou a Presidente, onde foi conseguido um compromisso entre maior justiça social e competitividade económica, mesmo que continue atrás da Venezuela em termos de índice de desenvolvimento humano.

Sempre acusado pela oposição de tiques ditatoriais, Chávez nunca ousou acabar com a democracia no país, onde uma numerosa classe média e a burguesia o veem com desconfiança, mas no plano internacional tudo fez para ter boas relações com alguns dos inimigos óbvios das democracias ocidentais, como o Irão ou a Líbia da era Kadhafi. Sobretudo, tem uma aliança privilegiada com Cuba, ao ponto de fornecer petróleo à ilha em troca de médicos e professores enviados para trabalhar na Venezuela.

Antes de partir para Cuba para ser operado a um cancro na zona pélvica, Chávez, de 58 anos, apareceu na televisão a apresentar o seu vice-presidente, Nicolás Maduro, como sucessor se algum mal lhe acontecesse na sequência da quarta operação desde que lhe foi diagnosticado cancro. Mas otimista, declarou, beijando um crucifixo: “Com a graça de Deus, como nas ocasiões anteriores, sairemos vitoriosos, para a frente, tenho plena fé”.

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