
Não sou novato nesse tipo de tecnologia. Já uso smartphone para reservar passagens de avião, encomendar pratos em restaurantes e comprar bebidas para uma festa. É mais prático e rápido do que telefonar. No caso dos táxis, o novo serviço faz o que a internet sempre fez melhor: coloca a oferta em contato direto com a demanda e elimina o intermediário. O aplicativo descobre a localização do passageiro pelo sinal de GPS do celular. Depois, identifica os motoristas próximos. Os taxistas são avisados do pedido pela internet e o aceitam se quiserem. Outros enviam uma lista de perfis dos motoristas, com seu nome, foto, telefone, proximidade, tipo de carro. Informam, também, se o motorista aceita pagamentos com cartão. O cliente escolhe o que for mais conveniente, espera pouco pelo táxi e não paga a mais por isso, já que o programa é gratuito e não cobra taxa dos passageiros. O motorista amplia sua clientela e roda menos tempo desocupado. É bom para todo mundo.
A estudante carioca Poline Hervet, de 25 anos, usa o serviço quando sai à noite com as amigas. “Fico mais segura”, diz Poline. “Sei que o motorista foi avaliado pela empresa.” Há também um histórico de avaliações feitas pelos passageiros, que dão nota depois da corrida. “Quando o taxista sabe que é avaliado, ele atende melhor”, diz o gerente de marketing do aplicativo Taxibeat, Sandro Barretto. O professor Carlos Nepomuceno, de 53 anos, diz que costuma usar táxi de madrugada para ir aos aeroportos e que sentiu a melhora de tratamento. “Era loteria. Já peguei motorista bêbado e outros ignoraram o caminho que pedi. A postura é outra com o aplicativo”, diz.
Esses programas surgiram na Europa e nos Estados Unidos em 2010. Estrearam por aqui há um ano, com a Easytaxi. Seu criador, o carioca Tallis Gomes, de 26 anos, teve a ideia depois de esperar meia hora pelo táxi de uma cooperativa. “Vi uma necessidade que eu podia atender”, diz Gomes. A concorrência cresceu. Há 14 aplicativos, que atendem 56 cidades do país. A secretária brasiliense Daiana Freitas, de 25 anos, experimentou há dois meses. “Uso quando tenho compromissos. Não tenho carro e o transporte público atrasa.”
Não se sabe o número total de clientes ou de taxistas que aderiram aos aplicativos. As empresas mostram resultados animadores. A Taxibeat tem 5.500 taxistas cadastrados no Rio e em São Paulo. Suas corridas mensais vinham dobrando a cada trimestre. Agora dobram mensalmente. A Easytaxi atua em 11 cidades do país e outras 11 no exterior. Tem 22.400 taxistas registrados e 500 mil passageiros no mundo. A Resolveaí tem a maior frota no Brasil, com 10 mil taxistas cadastrados. Faz parcerias com as cooperativas.
Conversando com taxistas, percebi que estão gostando da novidade. Sua impressão é que o número de corridas aumentou com os aplicativos. O paulistano Luiz Nesi, de 53 anos, passou a trabalhar de madrugada. “Descobri uma grande demanda nesse período”, afirma. “Rodo menos vazio e gasto menos gasolina.” O carioca Rogério Homem, de 47 anos, foi além. Há dois meses, largou a cooperativa e ficou só com o aplicativo. “Economizo 30%. Antes, pagava R$ 290 por mês à cooperativa, tendo ou não trabalhado. Agora, pago R$ 2 por corrida”, diz. Por causa da nova concorrência, há um rumor de que as cooperativas processarão as empresas de aplicativos, sob o argumento de que elas não seguem os mesmos padrões técnicos nem garantem o atendimento de todas as chamadas. A informação parece não ter fundamento. As empresas de táxi querem que o serviço seja regulamentado e fiscalizado pelas prefeituras, mas dizem que não entrarão na Justiça. Na verdade, discutem aderir à tecnologia com um programa que reúna as frotas das cooperativas em cada cidade. “Não queremos proibir. Os aplicativos são um avanço”, diz o presidente da Associação Brasileira das Associações Civis e Cooperativas de Táxi, Edmilson Americano. “Não podemos ficar parados no tempo.” Nem no tempo nem no trânsito – sobretudo sem passageiros.
Revista Época
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