Templo fica no bairro Massaranduba, onde os italianos estão hospedados.
Grupo vai participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.
Foi ao som dos atabaques que um grupo de onze católicos italianos foi recebido no terreiro de candomblé Ilê Axé Ogunjá Tiluaiê Orubaiá, no bairro de Massaranduba, na Cidade Baixa, emSalvador. Hospedados gratuitamente por moradores da própria comunidade onde fica o terreiro, os jovens da cidade de Florença, na Itália, vão participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, que começa na terça-feira (23).
O encontro, promovido por dois padres de Florença que atuam na Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Massaranduba, foi marcado por troca de experiências entre católicos e candomblecistas. “Nós temos um diálogo muito bom com a paróquia, e o pároco resolveu convidar o pessoal para conhecer um pouco da história de uma outra religião atuante aqui no Brasil. Eu achei muito interessante a gente abrir a porta, não como turistas, mas sim como religiosos tolerantes”, disse Pai Doté Balbino Cabral, líder religioso do terreiro, que tem um irmão que é padre. Antes da visita, os jovens participaram de uma missa na paróquia.
Acompanhados por adolescentes que participam do grupo católico Vida Bela, os jovens italianos puderam tirar dúvidas sobre a religião de matriz africana no encontro. (No vídeo ao lado, confira a visita feita pelos jovens)
O que é um orixá? Para que serve os 'tambores' (atabaques)? O que é um filho de santo?; foram algumas das perguntas feitas a Pai Balbino, que também quis saber qual era o objetivo da Jornada Mundial da Juventude. "Além de refletir sobre uma maior consciência da unidade da fé católica, a JMJ proporciona o encontro entre várias culturas", explicou o padre Paulo, que há dois anos mora em Salvador e atua com o grupo Vida Bela, onde adolescentes da comunidade de Massaranduba aprendem a viver como cristãos dentro da paróquia.
“Nós somos estrangeiros e para nós não tem o preconceito que aqui no Brasil tem contra as religiões de matriz africana. Para nós, talvez seja mais fácil se relacionar com pessoas de outras religiões que têm a mesma dignidade que a nossa. Não temos toda essa história de intolerância que aqui no Brasil, infelizmente, a gente percebeu", disse o padre Luca Niccheri, que há mais de cinco anos é pároco da igreja em Massaranduba.
Visita ecumênica
Segundo ele, a visita ao terreiro foi incluída na programação dos jovens católicos para que eles pudessem conhecer a realidade da religião, que é marcante na Bahia. "Através de uma comida, de um momento de celebração de se tornar irmãos, com modalidades diferentes, com pressupostos diferentes, tudo isso tem também na igreja católica. Porque é na missa que, com o pão e o vinho se faz a comunhão, nos tornamos irmãos, e isso também tem no candomblé. Cada um chega lá pelo próprio caminho, mas os anseios são iguais”, conclui padre Luca.
Para o italiano Leonardo, de 20 anos, a alegria do povo baiano chamou atenção. "Venho de uma cidade próxima a Florença, na Itália, e é a primeira vez que eu participo da JMJ e também é a primeira vez no Brasil. Eu vim também para participar dessa semana missionária [em Salvador], e fiquei muito contente. Espero repetir. O que me chamou muita atenção foi essa força, essa alegria que existe dentro de vocês, todos esses valores que lá na Europa acabaram se perdendo um pouco", disse o jovem católico.
O grupo de italianos está sendo acompanhado pelo padre Alessandro, responsável pela pastoral da juventude em Florença e que também esteve no terreiro na última quarta-feira (17).
Após cumprimentos e abraços entre candomblecistas e católicos, no encerramento da visita, os italianos puderam experimentar um prato de herança africana, o munguzá, feito com milho branco. "Essa experiência está me transmitindo muita alegria. Estou muito contente por conhecer sorrisos novos. Espero levar isso para Florença", celebra a jovem italiana Francesca.
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